Comunicado do Comité Central do PCP

A possibilidade agora aberta<br>não deve ser desperdiçada

O Co­mité Cen­tral do PCP, reu­nido a 8 de No­vembro 2015, ana­lisou os de­sen­vol­vi­mentos do quadro po­lí­tico re­sul­tante das elei­ções de 4 de Ou­tubro e a si­tu­ação eco­nó­mica e so­cial com que os tra­ba­lha­dores e o povo estão con­fron­tados; iden­ti­ficou o de­sen­vol­vi­mento da luta de massas como ele­mento cen­tral para ga­rantir a ele­vação das con­di­ções de vida e su­bli­nhou a im­por­tância es­tra­té­gica da con­cre­ti­zação das li­nhas de re­forço do Par­tido, da sua li­gação às massas e das ta­refas po­lí­ticas ime­di­atas, no­me­a­da­mente as elei­ções pre­si­den­ciais.

 

I

1. As elei­ções le­gis­la­tivas con­fir­maram o que há muito os tra­ba­lha­dores e o povo vi­nham afir­mando com a sua luta – a der­rota do PSD/​CDS-PP e da sua po­lí­tica. Uma po­lí­tica cujas con­sequên­cias con­ti­nuam a marcar a vida dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País e que os grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros pro­curam ver pros­se­guida, já que são os seus in­te­res­sados e be­ne­fi­ciá­rios.

2. A cam­panha ma­ni­pu­la­dora em torno dos re­sul­tados elei­to­rais, a de­cisão do Pre­si­dente da Re­pú­blica de in­di­gi­tação de Passos Co­elho para formar Go­verno as­so­ciada à gra­vi­dade do con­teúdo da sua co­mu­ni­cação ao País, cons­ti­tuem ele­mentos duma acção con­cer­tada que pro­cura que o País se man­tenha su­bor­di­nado aos in­te­resses do ca­pital mo­no­po­lista e da in­te­gração ca­pi­ta­lista eu­ro­peia.

O Co­mité Cen­tral do PCP de­nuncia a de­plo­rável ati­tude do Pre­si­dente da Re­pú­blica que se as­sumiu como re­pre­sen­tante do PSD e CDS-PP e man­da­tário dos in­te­resses do grande ca­pital de­ci­dindo, ao ar­repio do que a au­dição aos par­tidos com as­sento par­la­mentar per­mitia con­cluir, a in­di­gi­tação do líder do PSD como pri­meiro-mi­nistro.

A in­ter­venção de Ca­vaco Silva cons­titui mais um exemplo do as­su­mido con­fronto com a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa que tem ca­rac­te­ri­zado o seu per­curso po­lí­tico e os seus man­datos pre­si­den­ciais, sub­ver­tendo os fun­da­mentos do re­gime de­mo­crá­tico e ex­pondo o País a uma ati­tude de hu­mi­lhante sub­ser­vi­ência ex­terna.

A in­ter­venção de Ca­vaco Silva as­socia-se ao de­sen­vol­vi­mento de uma brutal ofen­siva ide­o­ló­gica que no úl­timo mês, a partir de di­versos pro­ta­go­nistas e as­su­mindo di­versas formas, co­locou no centro da sua acção o ataque ao PCP e o re­curso à chan­tagem, ao medo, à men­tira e à de­ma­gogia.

O Co­mité Cen­tral do PCP não re­co­nhece a Ca­vaco Silva nem le­gi­ti­mi­dade po­lí­tica nem di­mensão de­mo­crá­tica para tecer con­si­de­ra­ções sobre o papel e o per­curso do PCP en­quanto Par­tido in­con­tor­nável na ins­tau­ração do re­gime de­mo­crá­tico, na de­mo­cracia por­tu­guesa e na vida po­lí­tica na­ci­onal e con­dena a sua ati­tude de apoio a um Go­verno e a uma po­lí­tica que tanto rasto de des­truição tem dei­xado no País.

3. Um rasto de des­truição cujas con­sequên­cias se tornam tão mais evi­dentes quanto a re­a­li­dade eco­nó­mica e so­cial se con­fronta com a ilusão, men­tira, pro­pa­ganda e de­ma­gogia le­vadas a cabo pelo Go­verno.

O que a si­tu­ação ac­tual re­vela é o de­sem­prego real a atingir mais de um mi­lhão e cem mil por­tu­gueses; que dos novos con­tratos de tra­balho, 80 por cento são pre­cá­rios; a dura re­a­li­dade dos tra­ba­lha­dores por conta de ou­trem e em par­ti­cular dos 20 por cento que au­ferem um sa­lário in­fe­rior ao sa­lário mí­nimo na­ci­onal; a es­ma­ga­dora mai­oria das re­formas in­fe­rior ao li­miar de po­breza; o corte, se­gundo os dados da exe­cução or­ça­mental, nas des­pesas com pres­ta­ções so­ciais de 520 mi­lhões de euros nos pri­meiros nove meses de 2015; os dois mi­lhões e oi­to­centos mil por­tu­gueses em risco de po­breza, se­gundo dados do INE; o ele­vado grau de en­fra­que­ci­mento do apa­relho pro­du­tivo e cres­cente do­mi­nação dos cen­tros de de­cisão es­tra­té­gica pelo es­tran­geiro; uma quebra da pro­dução de seis e meio pontos per­cen­tuais que nem em 2017 será re­posta; uma quebra do in­ves­ti­mento global de 30 por cento e 50 por cento no in­ves­ti­mento pú­blico com pe­sadas e graves con­sequên­cias fu­turas; a dí­vida pú­blica in­sus­ten­tável; o enorme em­buste da pro­me­tida de­vo­lução de 35,3 por cento da so­bre­taxa do IRS e a pers­pec­tiva de novos e subs­tan­ciais apoios à banca.

O Co­mité Cen­tral do PCP de­nuncia, ainda, a ile­gí­tima e abu­siva de­cisão de um Go­verno li­mi­tado à gestão cor­rente de en­volver o Es­tado como ava­lista de dí­vidas que ve­nham a re­sultar do rui­noso pro­cesso de en­trega da TAP ao grande ca­pital. É ainda de sa­li­entar como re­ve­lador do nível de pro­mis­cui­dade com o ca­pital mo­no­po­lista que o an­te­rior se­cre­tário de Es­tado dos Trans­portes, que con­duziu os pro­cessos de con­cessão e pri­va­ti­zação de em­presas deste sector, tenha sido agora con­tra­tado pelo Banco de Por­tugal para con­duzir a en­trega do Novo Banco.

4. Uma re­a­li­dade so­cial e eco­nó­mica que é von­tade de PSD e CDS-PP manter e agravar, as­pecto que ficou claro pelo con­teúdo do Pro­grama de Go­verno en­tregue no pas­sado dia 6 de No­vembro.

Ig­no­rando os graves pro­blemas es­tru­tu­rais do País que per­sistem, in­sis­tindo na falsa ideia de que a sua po­lí­tica con­duziu a um ca­minho de re­cu­pe­ração eco­nó­mica, re­pe­tindo pro­cla­ma­ções va­zias quanto à re­so­lução de pro­blemas so­ciais como o de­sem­prego ou a po­breza e pro­cu­rando iludir a re­a­li­dade das cres­centes di­fi­cul­dades que atingem os tra­ba­lha­dores e o povo, o que o Go­verno PSD/​CDS-PP apre­senta é a pers­pec­tiva de con­ti­nui­dade e in­ten­si­fi­cação da po­lí­tica com que agravou a ex­plo­ração e o em­po­bre­ci­mento, apro­fundou as in­jus­tiças e de­si­gual­dades e impôs a de­gra­dação do re­gime de­mo­crá­tico.

PSD e CDS-PP pro­curam ainda res­gatar-se a si pró­prios da der­rota elei­toral que so­freram in­te­grando no Pro­grama do Go­verno me­didas e pro­messas des­ti­nadas a criar a ilusão de que agora es­ta­riam em con­di­ções e na dis­po­sição de in­verter o rumo da sua po­lí­tica re­ver­tendo al­gumas das de­ci­sões com que atin­giram os tra­ba­lha­dores e o povo ao longo dos úl­timos quatro anos.

No en­tanto, con­fir­mando o ob­jec­tivo de PSD e CDS-PP pros­se­guirem a sua po­lí­tica de ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento, o Pro­grama do Go­verno con­firma as muitas e fortes ra­zões para que o Go­verno PSD/​CDS-PP não entre em fun­ções, não apenas pelos pre­juízos que tem cau­sado mas também pelos que pre­tendia con­ti­nuar a causar aos tra­ba­lha­dores, ao povo e ao País.

O Co­mité Cen­tral do PCP re­a­firma a de­cisão de apre­sentar uma moção de re­jeição do Pro­grama do Go­verno PSD/​CDS-PP.

5. O Co­mité Cen­tral do PCP su­blinha a im­por­tância da nova re­lação de forças na As­sem­bleia da Re­pú­blica e as po­ten­ci­a­li­dades que pode com­portar para dar res­posta aos mais ur­gentes pro­blemas que afectam os tra­ba­lha­dores e as po­pu­la­ções. O Co­mité Cen­tral do PCP des­taca que não há ma­no­bras que con­sigam iludir a pe­sada der­rota do PSD e CDS-PP, o bom re­sul­tado ob­tido pela CDU e a afir­mação do papel e da ini­ci­a­tiva do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês que se con­firmou como uma força in­subs­ti­tuível para o pre­sente e o fu­turo do País.

II

1. A clara der­rota da co­li­gação PSD/​CDS-PP nas elei­ções de 4 de Ou­tubro, a nova re­lação de forças na As­sem­bleia da Re­pú­blica e os de­sen­vol­vi­mentos dela de­cor­rentes ex­põem, com toda a cla­reza, que PSD/​CDS-PP per­deram não só a le­gi­ti­mi­dade po­lí­tica, como as con­di­ções ins­ti­tu­ci­o­nais para se man­terem no go­verno do País.

O es­forço feito a partir da co­li­gação PSD/​CDS-PP, do con­junto de co­men­ta­dores ao seu ser­viço e da ge­ne­ra­li­dade da co­mu­ni­cação so­cial, para apre­sentar como ven­ce­dores os der­ro­tados nas elei­ções, su­cumbiu pe­rante a ini­ci­a­tiva do PCP que, desde 4 de Ou­tubro, su­bli­nhou que PSD e CDS-PP não ti­nham con­di­ções de, por si só, pros­se­guirem a po­lí­tica de de­sastre na­ci­onal re­sul­tante da sua acção go­ver­na­tiva nos úl­timos quatro anos. Ini­ci­a­tiva que re­velou, ainda e em toda a sua di­mensão, o que o PCP afirmou em res­posta aos que re­du­ziam as elei­ções a uma falsa dis­puta para pri­meiro-mi­nistro, para par­tido mais vo­tado ou para go­verno, ou seja: aquilo que ver­da­dei­ra­mente se de­cide em elei­ções para a As­sem­bleia da Re­pú­blica é o nú­mero de de­pu­tados que cada força po­lí­tica elege, as mai­o­rias par­la­men­tares que se formam na As­sem­bleia da Re­pú­blica, a base ins­ti­tu­ci­onal que se cria para su­portar uma de­ter­mi­nada po­lí­tica e o go­verno que pode en­trar em fun­ções.

O PCP tomou a ini­ci­a­tiva e apontou a ne­ces­si­dade de se ex­traírem con­sequên­cias po­lí­ticas e ins­ti­tu­ci­o­nais dos re­sul­tados elei­to­rais. A con­de­nação im­posta à co­li­gação PSD/​CDS-PP não foi apenas uma der­rota do seu Go­verno, foi também da sua po­lí­tica. Foi a essa ex­pressão de exi­gência de mu­dança da vida po­lí­tica na­ci­onal que o PCP res­pondeu. Foi, e é, essa ex­pec­ta­tiva de uma po­lí­tica capaz de ga­rantir o de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico, de­volver ren­di­mentos e di­reitos rou­bados, va­lo­rizar sa­lá­rios e pen­sões, pro­mover o em­prego e com­bater in­jus­tiças, re­cu­perar o pleno di­reito à saúde e à edu­cação, ga­rantir uma Se­gu­rança So­cial só­lida e com ní­veis de pro­tecção so­cial mais ele­vados, as­se­gurar ser­viços pú­blicos de qua­li­dade, que os tra­ba­lha­dores e o povo as­piram ver con­cre­ti­zada.

A nova re­a­li­dade po­lí­tica e ins­ti­tu­ci­onal de­cor­rente das elei­ções e a von­tade de mu­dança ex­pressa pelo povo co­locou, e co­loca, a exi­gência e a res­pon­sa­bi­li­dade de as­se­gurar a in­ter­rupção do rumo pros­se­guido pelo an­te­rior Go­verno. É esta res­pon­sa­bi­li­dade que se impõe con­cre­tizar.

2. Como o PCP su­bli­nhou, o ca­minho de con­ver­gência para uma po­lí­tica que re­pre­sente uma ver­da­deira e pro­funda mu­dança na vida po­lí­tica na­ci­onal não é fácil nem sim­ples. Co­nhecia-se e nunca se iludiu essa di­fi­cul­dade pa­ten­teada quer nos pro­gramas elei­to­rais muito dis­tintos, quer na au­sência de opção do PS para a rup­tura com a po­lí­tica de di­reita.

Mas também como o PCP afirmou, isso não obs­tava a que, face a um novo quadro po­lí­tico e ins­ti­tu­ci­onal, o PCP não pou­passe es­forços para, res­pon­dendo aos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e do povo e hon­rando os seus com­pro­missos, tra­ba­lhar e lutar para lhe dar res­posta. Foi o que séria e em­pe­nha­da­mente o PCP fez.

De acordo com as de­ci­sões do Co­mité Cen­tral de 6 de Ou­tubro em que se afirma que «quer as pre­ten­sões de Ca­vaco Silva, quer as de Passos Co­elho e Paulo Portas, só serão con­cre­ti­zadas se o PS se dis­puser a vi­a­bi­lizar e a ser força de apoio a um novo go­verno PSD/​CDS-PP» e que, no quadro da Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa, o PS só não forma go­verno se não quiser, bem como da De­cla­ração de 7 de Ou­tubro, o PCP exa­minou nas úl­timas se­manas so­lu­ções po­lí­ticas cor­res­pon­dentes à si­tu­ação.

A abor­dagem e a ava­li­ação re­cí­proca entre o PS e o PCP per­mitiu iden­ti­ficar um con­junto de ma­té­rias onde é pos­sível as­se­gurar uma acção con­ver­gente para res­ponder a al­guns dos pro­blemas mais ime­di­atos dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês. Está aberta a pos­si­bi­li­dade real de, entre ou­tros, dar passos na de­vo­lução de sa­lá­rios e ren­di­mentos, de repor os com­ple­mentos de re­forma dos tra­ba­lha­dores do sector em­pre­sa­rial do Es­tado, de va­lo­rizar sa­lá­rios e travar a de­gra­dação con­ti­nuada das pen­sões, de res­ti­tuir parte das pres­ta­ções so­ciais su­jeitas à con­dição de re­cursos, de repor os fe­ri­ados re­ti­rados, de ga­rantir me­lhores con­di­ções de acesso aos di­reitos à saúde e à edu­cação, de fazer re­verter os pro­cessos de con­cessão e pri­va­ti­zação de em­presas de trans­portes ter­res­tres.

En­tre­tanto, o tra­balho re­a­li­zado con­firmou igual­mente que a con­ver­gência em torno de um go­verno e de um pro­grama de go­verno, como foi re­co­nhe­cido por ambos os par­tidos, com­porta um nível de exi­gência quanto a op­ções de­ci­sivas de po­lí­tica na­ci­onal que não se en­con­tram pre­en­chidas, tendo em conta a re­co­nhe­cida e com­pro­vada visão di­ver­gente quer quanto a cons­tran­gi­mentos ex­ternos quer quanto ao en­fren­ta­mento dos in­te­resses do grande ca­pital.

O grau de con­ver­gência ve­ri­fi­cado deve tra­duzir-se no grau de com­pro­misso que lhe cor­res­ponda. Va­lo­ri­zando o nível de con­ver­gência, o Co­mité Cen­tral do PCP re­a­firma que estão en­tre­tanto cri­adas as con­di­ções para, nas ac­tuais cir­cuns­tân­cias, as­se­gurar uma so­lução go­ver­na­tiva que im­peça PSD e CDS-PP de pros­se­guirem a po­lí­tica de des­truição do País e con­tribua para travar as­pectos gra­vosos no sen­tido da in­versão do ca­minho se­guido até aqui. Há no novo quadro par­la­mentar uma mai­oria de de­pu­tados que cons­ti­tuem con­dição bas­tante para a for­mação de um go­verno de ini­ci­a­tiva do PS, que per­mita a apre­sen­tação do seu pro­grama, a sua en­trada em fun­ções e a adopção de uma po­lí­tica que as­se­gure uma so­lução du­ra­doura na pers­pec­tiva da le­gis­la­tura.

Pro­ce­dendo a uma ava­li­ação do tra­balho re­a­li­zado com o PS e à ve­ri­fi­cação do grau de con­ver­gência al­can­çado e do nível de com­pro­misso que lhe pode cor­res­ponder, o Co­mité Cen­tral do PCP con­firmou os termos da «Po­sição con­junta do PS e do PCP sobre so­lução po­lí­tica» en­viada ao PS e que vindo a ser igual­mente apro­vada pelo PS, terá opor­tu­na­mente a sua for­ma­li­zação e apre­sen­tação pú­blicas. Estão assim pre­en­chidas por parte do PCP as con­di­ções para con­sumar a der­rota do Go­verno PSD/​CDS-PP e pos­si­bi­litar a for­mação de um go­verno da ini­ci­a­tiva do PS.

Nada pode iludir que existe na As­sem­bleia da Re­pú­blica uma base ins­ti­tu­ci­onal que per­mi­tirá ir tão longe quanto for a dis­po­sição de cada força po­lí­tica que a compõe para su­portar o ca­minho da re­po­sição de sa­lá­rios e ren­di­mentos, da de­vo­lução de di­reitos, do re­forço do acesso à saúde, à edu­cação e à se­gu­rança so­cial, no apoio às micro, pe­quenas e mé­dias em­presas, aos re­for­mados, aos jo­vens e que pode per­mitir a con­cre­ti­zação de um con­junto de me­didas e so­lu­ções que dêem res­posta a in­te­resses ime­di­atos dos tra­ba­lha­dores e do povo.

3. O Co­mité Cen­tral do PCP sa­li­enta que há na ac­tual cor­re­lação de forças na As­sem­bleia da Re­pú­blica con­di­ções para apre­sentar e aprovar ini­ci­a­tivas que res­pondam aos di­reitos e as­pi­ra­ções dos tra­ba­lha­dores e do povo, e que nada obsta à for­mação de um go­verno de ini­ci­a­tiva do PS. E so­bre­tudo su­blinha que, nas ac­tuais cir­cuns­tân­cias, ne­nhuma jus­ti­fi­cação séria há para que o PS não as­suma as suas res­pon­sa­bi­li­dades de con­tri­buir para re­jeitar o pro­grama do Go­verno PSD/​CDS-PP agora em­pos­sado e para afastar estes par­tidos da go­ver­nação do País. O Co­mité Cen­tral do PCP re­a­firma, ainda, que ne­nhuma razão po­lí­tica ou ins­ti­tu­ci­onal pode ser in­vo­cada pelo Pre­si­dente da Re­pú­blica para ques­ti­onar essa so­lução go­ver­na­tiva.

4. Os tra­ba­lha­dores e o povo podem contar com o que o PCP as­sumiu pe­rante eles e o País: to­ma­remos a ini­ci­a­tiva e não fal­ta­remos com o apoio a qual­quer me­dida que cor­res­ponda aos seus in­te­resses, à ele­vação dos seus ren­di­mentos e à re­po­sição dos seus di­reitos; assim como não cau­ci­o­na­remos me­didas e po­lí­ticas que atentem contra os seus in­te­resses e di­reitos. É esse o com­pro­misso de sempre que o PCP re­nova, com a se­gura ga­rantia do seu em­penho em, sem pres­cindir da sua in­de­pen­dência ide­o­ló­gica e po­lí­tica, con­tri­buir para as­se­gurar para o País um rumo de de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico, pro­gresso so­cial e in­de­pen­dência na­ci­onal.

5. A pos­si­bi­li­dade agora aberta, e que não deve ser des­per­di­çada, não res­ponde e ao mesmo tempo con­firma o in­dis­pen­sável ob­jec­tivo de rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e a con­cre­ti­zação de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda. Uma po­lí­tica que o PCP re­a­firma como ab­so­lu­ta­mente in­dis­pen­sável para romper com o poder do ca­pital mo­no­po­lista e com as li­mi­ta­ções e cons­tran­gi­mentos de­cor­rentes da in­te­gração ca­pi­ta­lista da União Eu­ro­peia e dos seus ins­tru­mentos de do­mi­nação. Uma po­lí­tica as­sente no cres­ci­mento eco­nó­mico e na pro­moção do em­prego, na va­lo­ri­zação dos sa­lá­rios e das pen­sões, na re­po­sição dos di­reitos in­di­vi­duais e co­lec­tivos dos tra­ba­lha­dores, na de­fesa e afir­mação das fun­ções so­ciais do Es­tado e dos ser­viços pú­blicos, na re­cu­pe­ração pelo Es­tado do con­trolo dos sec­tores es­tra­té­gicos, a co­meçar pela banca, numa po­lí­tica fiscal justa que alivie os im­postos sobre os tra­ba­lha­dores e o povo e tri­bute for­te­mente os lu­cros, di­vi­dendos e tran­sac­ções fi­nan­ceiras do grande ca­pital, que ins­creva a ina­diável re­ne­go­ci­ação da dí­vida como con­dição de de­sen­vol­vi­mento, que re­cu­pere a so­be­rania eco­nó­mica, or­ça­mental e mo­ne­tária.

É este ob­jec­tivo que os tra­ba­lha­dores e o povo, os de­mo­cratas e pa­tri­otas, todos quanto querem as­se­gurar o di­reito a um Por­tugal com fu­turo con­ti­nu­arão a tomar em mãos com a sua in­ter­venção e a sua luta.

III

 1. O Co­mité Cen­tral do PCP sa­li­enta a im­por­tante ini­ci­a­tiva e a in­tensa ac­ti­vi­dade do Par­tido no exi­gente pe­ríodo que de­correu desde as elei­ções para a As­sem­bleia da Re­pú­blica, saúda as or­ga­ni­za­ções e mem­bros do Par­tido e da JCP pelo tra­balho re­a­li­zado e re­a­firma a im­por­tância das li­nhas de tra­balho apon­tadas na sua úl­tima reu­nião e a ne­ces­si­dade de as pros­se­guir com em­penho e ini­ci­a­tiva. 
 

2. O Co­mité Cen­tral do PCP sa­li­enta a im­por­tância do de­sen­vol­vi­mento da luta dos tra­ba­lha­dores e do povo, de que são exemplo as lutas dos tra­ba­lha­dores dos trans­portes, Carris, Metro, Fer­ro­viá­rios, tra­ba­lha­dores por­tuá­rios, da Ad­mi­nis­tração Pú­blica e dos es­tu­dantes.

Na ac­tual si­tu­ação me­rece par­ti­cular des­taque, no se­gui­mento de uma luta de mais de dois anos que, re­sis­tindo à in­ge­rência do Go­verno PSD/​CDS-PP, ga­rantiu a fi­xação das 35 horas de tra­balho em grande parte das au­tar­quias lo­cais, agora re­co­nhe­cida com a de­cisão do Tri­bunal Cons­ti­tu­ci­onal e com a pu­bli­cação dos Acordos Co­lec­tivos de En­ti­dade Em­pre­ga­dora Pú­blica (ACEEP). Uma grande vi­tória dos tra­ba­lha­dores que aponta a pos­si­bi­li­dade da re­po­sição das 35 horas de tra­balho para todos os tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica. São ainda de des­tacar os re­sul­tados ob­tidos pela luta dos pro­fes­sores com o fim da prova de ava­li­ação de co­nhe­ci­mentos e ca­pa­ci­dades, bem como os avanços re­gis­tados com a luta de­sen­vol­vida em vá­rios sec­tores e em­presas.

O de­sen­vol­vi­mento da acção rei­vin­di­ca­tiva e da luta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções, e o re­forço das or­ga­ni­za­ções e mo­vi­mentos uni­tá­rios de massas são ta­refas da maior im­por­tância. No tempo pró­ximo as­sume par­ti­cular re­levo a con­cen­tração con­vo­cada pela CGTP-IN para o pró­ximo dia 10 de No­vembro, junto à As­sem­bleia da Re­pú­blica, vi­sando con­sumar a der­rota da co­li­gação PSD/​CDS-PP, re­clamar res­postas para as rei­vin­di­ca­ções dos tra­ba­lha­dores e afirmar a ne­ces­si­dade duma po­lí­tica que pro­mova o de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico ao ser­viço dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País.

3. O Co­mité Cen­tral do PCP des­taca a ini­ci­a­tiva e in­ter­venção po­lí­tica do Par­tido, no­me­a­da­mente as cen­tenas de reu­niões e ple­ná­rios, bem como co­mí­cios, ses­sões, ac­ções de in­for­mação e pro­pa­ganda, reu­niões e con­tactos com ci­da­dãos sem fi­li­ação par­ti­dária, e a in­ter­venção na As­sem­bleia da Re­pú­blica e no Par­la­mento Eu­ropeu.

Cum­prindo o com­pro­misso com os tra­ba­lha­dores e o povo, o PCP apre­sentou já na As­sem­bleia da Re­pú­blica um con­junto de ini­ci­a­tivas le­gis­la­tivas com vista à re­cu­pe­ração de di­reitos cor­tados e à re­versão de me­didas to­madas pelo Go­verno PSD/​CDS-PP.

Ao pri­meiro con­junto de ini­ci­a­tivas – pro­pondo a re­po­sição das 35 horas de tra­balho se­manal na Ad­mi­nis­tração Pú­blica, a re­po­sição dos fe­ri­ados re­ti­rados, a re­po­sição do pa­ga­mento dos com­ple­mentos de pensão nas em­presas do Sector Em­pre­sa­rial do Es­tado e a re­vo­gação das me­didas de co­acção e con­di­ci­o­na­mento sobre as mu­lheres no acesso à in­ter­rupção vo­lun­tária da gra­videz – se­guiram-se as re­la­tivas ao can­ce­la­mento e re­versão dos pro­cessos de fusão, re­es­tru­tu­ração e sub-con­cessão das em­presas Carris e Metro de Lisboa, da pri­va­ti­zação da EGF e da CP-Carga, da fusão da REFER com a Es­tradas de Por­tugal, bem como da sub­con­cessão dos STCP e Metro do Porto. A ini­ci­a­tiva na As­sem­bleia da Re­pú­blica pros­se­guirá, re­flec­tindo o con­junto dos com­pro­missos as­su­midos pelo PCP com os tra­ba­lha­dores e o povo por­tu­guês.

4. O Co­mité Cen­tral do PCP su­blinha a ine­gável im­por­tância das Elei­ções Pre­si­den­ciais no quadro da ac­tual si­tu­ação do País.

O quadro de can­di­da­turas já hoje co­nhe­cido e o de­sen­vol­vi­mento da pré-cam­panha con­firma a jus­teza da de­cisão do PCP de apre­sentar a can­di­da­tura de Edgar Silva, com­prova a dis­tinta na­tu­reza e po­si­ci­o­na­mento desta, e mostra com cla­reza o seu papel es­sen­cial e in­subs­ti­tuível nesta ba­talha po­lí­tica.

Uma can­di­da­tura que, desde o seu anúncio, re­co­lhendo uma cres­cente cor­rente de apoios e re­ve­lando uma ex­pres­siva par­ti­ci­pação e alar­ga­mento, afirma um sen­tido de con­fi­ança nas pos­si­bi­li­dades do País e na força e ca­pa­ci­dades do povo para cons­truir um outro rumo na vida po­lí­tica na­ci­onal.

O Co­mité Cen­tral do PCP apela à mo­bi­li­zação de todo o Par­tido para a con­cre­ti­zação das in­dis­pen­sá­veis ta­refas re­la­ci­o­nadas com as elei­ções pre­si­den­ciais, bem como à in­ten­si­fi­cação das ac­ções de con­tacto e es­cla­re­ci­mento, num quadro em que cada apoio é o me­lhor con­tri­buto para uma forte vo­tação na can­di­da­tura de Edgar Silva. Uma can­di­da­tura ver­da­dei­ra­mente co­e­rente e com­ba­tiva, com­pro­me­tida com os in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e do povo, vin­cu­lada aos va­lores de Abril e à Cons­ti­tuição da Re­pú­blica, uma can­di­da­tura que não de­siste de Por­tugal e se bate por um País de­sen­vol­vido, justo e so­be­rano.

5. O Co­mité Cen­tral do PCP va­lo­riza as ac­ções de pro­testo re­a­li­zadas pelo mo­vi­mento da paz em Por­tugal contra os exer­cí­cios da NATO e su­blinha a im­por­tância do de­sen­vol­vi­mento da luta pela paz e a so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­o­na­lista e pela dis­so­lução da NATO. No plano da ac­ti­vi­dade in­ter­na­ci­onal, o Co­mité Cen­tral do PCP as­si­nala a par­ti­ci­pação numa missão de so­li­da­ri­e­dade à Pa­les­tina e a re­a­li­zação do 17.º En­contro dos Par­tidos Co­mu­nistas e Ope­rá­rios, de 30 de Ou­tubro a 1 de No­vembro, em Is­tambul, na Tur­quia, e re­a­firma o seu em­pe­nha­mento no re­forço do mo­vi­mento co­mu­nista e re­vo­lu­ci­o­nário in­ter­na­ci­onal e da frente anti-im­pe­ri­a­lista.

6. O Co­mité Cen­tral do PCP sa­li­enta as ini­ci­a­tivas de co­me­mo­ração do 98.º ani­ver­sário da Re­vo­lução de Ou­tubro e des­taca a sessão de apre­sen­tação do VI tomo das obras es­co­lhidas de Álvaro Cu­nhal que se re­a­liza no dia 12 de No­vembro.

7. O Co­mité Cen­tral do PCP, no se­gui­mento da de­cisão da sua úl­tima reu­nião sobre a acção es­pe­cí­fica a levar a cabo até final de 2016, con­cre­ti­zando a Re­so­lução «Mais or­ga­ni­zação, mais in­ter­venção, maior in­fluência – um PCP mais forte», aponta a ne­ces­si­dade de avançar de­ci­di­da­mente na de­fi­nição e pla­ni­fi­cação de ob­jec­tivos de acordo com as di­rec­ções de­fi­nidas e de pro­gredir na apli­cação de me­didas con­cretas de re­forço do Par­tido.

8. O Co­mité Cen­tral do PCP sa­li­enta o pro­gresso da cam­panha na­ci­onal de fundos «Mais es­paço. Mais Festa. Fu­turo com Abril», con­si­dera ne­ces­sário pros­se­guir a adopção de me­didas para as­se­gurar o seu êxito, ao mesmo tempo que se inicia a pre­pa­ração da 40.ª edição da Festa do Avante!, a re­a­lizar nos dias 2, 3 e 4 de Se­tembro de 2016, que in­te­grará no seu pro­jecto a uti­li­zação da Quinta do Cabo.

IV

A si­tu­ação ac­tual com­prova o papel e a ini­ci­a­tiva do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês, o seu com­pro­misso ina­ba­lável com os tra­ba­lha­dores e o povo in­se­pa­rável da sua iden­ti­dade co­mu­nista, a ne­ces­si­dade do seu re­forço, a ar­ti­cu­lação da sua in­ter­venção ime­diata com a luta por uma al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda, por uma de­mo­cracia avan­çada, pelo so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo.

(Tí­tulo da res­pon­sa­bi­li­dade da Re­dac­cção) 

 



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